Microbiota Intestinal
O trato gastrointestinal pode ser dividido em quatro regiões anatômicas: o esôfago (1), o estômago (2), o intestino delgado (duodeno, jejuno e íleo) (3), e o intestino grosso ou cólon (4).
As células do hospedeiro, os nutrientes e a microbiota, são componentes que estão sempre em contato e interação no intestino.
Dentre as funções intestinais, incluem: processo que leva à digestão dos alimentos, à absorção dos nutrientes, e a uma série de atividades que objetivam a defesa contra agressores externos. Esta última, e importante função do intestino, é baseada em três constituintes essenciais: a microbiota, a barreira constituída pela mucosa intestinal e o sistema imune local.
Por muito tempo a importância das bactérias que compõem o trato gastrointestinal foi negligenciada. No início do século XX, Metchnikoff hipotetizou a importância dos Lactobacillus para a saúde humana e longevidade, através da ingestão de bactérias por meio de iogurte e produtos fermentados.
A colonização do estômago, intestino delgado e intestino grosso são variáveis, assim como também as condições fisiológicas destes ambientes. Após a passagem pela cavidade oral, onde o pH é próximo do básico, o baixo pH do estômago (2,5 – 3,0) é destrutivo para a maioria dos microrganismos. Assim, poucas colônias são encontradas no estômago. Devido aos fluidos intestinais agressivos (sais biliares e sucos pancreáticos, por exemplo), o intestino delgado também compreende um ambiente hostil para o crescimento das células bacterianas. A quantidade de bactérias é muito baixa no duodeno, aumentando gradativamente até o íleo terminal. É no cólon, portanto, que as bactérias encontram condições favoráveis (pH, teor de oxigênio e trânsito intestinal lento) para o seu desenvolvimento, alcançando proporções significativas.
A microbiota é constituída por microrganismos vivos, que em parceria com outros componentes, efetuam importantes funções fisiológicas no hospedeiro. Estes efeitos podem ser locais ou sistêmicos, benéficos ou prejudiciais.
Estima-se que o colón de adultos saudáveis apresenta cerca de 400 a 500 espécies de bactérias. Porém, pesquisadores afirmam que nem todas as espécies foram identificadas, e que os novos métodos baseados no reconhecimento do DNA poderão auxiliar neste processo.
No cólon as bactérias entram em contato com restos de alimentos não digeridos e não absorvidos pelo hospedeiro. Se o substrato é um carboidrato (principalmente fibras e açúcares não digeríveis), os produtos de sua fermentação são os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), predominantemente; acetato, propionato e butirato, os quais são responsáveis por efeitos fisiológicos no hospedeiro, uma vez que são absorvidos pelos enterócitos. Em particular, atuam sobre o metabolismo dos microrganismos que compõem a microbiota intestinal, regulação hepática de lipídeos e açúcares, e fornecimento de energia aos colonócitos.
O equilíbrio da microbiota intestinal é um importante fator na manutenção da saúde do hospedeiro. Existe um interesse crescente nas possibilidades de manipulação da composição da microbiota intestinal através da ingestão de alimentos ou ingredientes alimentares, tendo por objetivo principal aumentar o número ou a atividade dos microrganismos promotores de saúde.
MANZONE, M.S.J.; CAVALLINI, D.C.U.; ROSSI, E.A. Efeitos do consumo de probióticos nos lípides sanguíneos. Alim. Nutr. v.19, n.3, p.351-360, 2008.
Em condições normais, inúmeras espécies de bactérias estão presentes no intestino, a maioria delas anaeróbias estritas.
A microbiota intestinal exerce influência considerável sobre uma série de reações bioquímicas do hospedeiro. Paralelamente, quando em equilíbrio, impede que microrganismos potencialmente patogênicos nela presentes exerçam seus efeitos. Por outro lado, o desequilíbrio dessa microbiota pode resultar na proliferação de patógenos, com conseqüente infecção bacteriana.
SAAD, S.M.I.; CRUZ, A.G.; FARIA, J.A.F. Probióticos e Prebióticos em Alimentos - Fundamentos e Aplicações Tecnológicas. p.57, 2011.